terça-feira, 23 de outubro de 2007

Tua caminhada...

Tua caminhada ainda não terminou...
A realidade te acolhe
dizendo que pela frente
o horizonte da vida necessita
de tuas palavras
e do teu silêncio.

Se amanhã sentires saudades,
lembra-te da fantasia
e sonha com tua próxima vitória.
Vitória que todas as armas do mundo
jamais conseguirão obter,
porque é uma vitória que surge da paz
e não do ressentimento.

É certo que irás encontrar situações
tempestuosas novamente,
mas haverá de ver sempre
o lado bom da chuva que cai
e não a faceta do raio que destrói.

Tu és jovem.
Atender a quem te chama é belo,
lutar por quem te rejeita
é quase chegar a perfeição.
A juventude precisa de sonhos
e se nutrir de lembranças,
assim como o leito dos rios
precisa da água que rola
e o coração necessita de afeto.

Não faças do amanhã
o sinônimo de nunca,
nem o ontem te seja o mesmo
que nunca mais.
Teus passos ficaram.
Olhes para trás...
mas vá em frente
pois há muitos que precisam
que chegues para poderem seguir-te

Autor Desconhecido


O texto é atribuído a Chaplin na internet, contudo não há provas de que seja dele. A propabilidade de não ser de Chaplin é alta.

Se você sabe onde e quando o texto foi publicado pela primeira vez e por quem, entre em contato.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Já perdoei erros...

"Já perdoei erros quase imperdoáveis, tentei substituir pessoas insubstituíveis e esquecer pessoas inesquecíveis. Já fiz coisas por impulso, já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também decepcionei alguém. Já abracei para proteger, já dei risada quando não podia, fiz amigos eternos, amei e fui amado, mas também fui rejeitado, fui amado e não amei. Já gritei e pulei de tanta felicidade, já vivi de amor e quebrei a cara muitas vezes! Já chorei ouvindo música e vendo fotos, já liguei só para ouvir a voz, me apaixonei por um sorriso, já pensei que fosse morrer de tanta saudade, tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo)! Mas vivi!Viva! Não passo pela vida... você também não deveria passar! Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante."


Não é de Chaplin.
É de Autor Desconhecido

"I have forgiven mistakes that were unforgivable, I have tried to replace those who were unreplaceable and tried to forget those who were unforgettable. I have done things on impulse. I have been let down by those whom I thought would never let me down but I have also let others down. I have laughed when It was almost impossible to laugh. I have held someone to protect them. I have made life long friends, I’ve loved and been loved. I have screamed and jumped for joy, I have lived on love and made eternal promises of love. I have fallen many times. I have cried while listening to music and also when looking at photos. I have called someone just to hear their voice. I have fallen in love with a smile. I have also thought I was going to die from loosing someone special and I did loose them! but I lived! And I still live! I don’t allow life to pass me by and neither should you! Live! What is really good is to fight with determination, embrace life and live it with passion! Loose your battles with class and dare to win because the world belongs to those who dare and life, Life is worth too much to be insignificant…"


This text doesn't belong to Chaplin
Unknown Author

Se você sabe quem publicou o texto e onde foi publicado pela primeira vez entre em contato.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O Outro Lado de Carlito (Carlos Drummond de Andrade)

"Sou dos que admiram profundamente Carlito. Dos que enxergam atrás da figura grotesca o sentimento da dor machucada, de ironia melancólica e sem outros meios para se exprimir o ridículo cotidiano. Enfim, sou dos que acham Carlito triste, um pouco por natureza e um pouco pelos acréscimos sucessivos que críticos e artistas fizeram à sua personalidade. Porque parece justo distinguir entre o Carlito inicial, amargo sem dúvida, mas positivamente sem uma filosofia e sem uma estética próprias, e o “caso Carlito” o “fenômeno Carlito”, que Elie Faure, Jean Cocteau, Paul Morand, Henry Poutaille, Wells e tantos outros vêm comentando e discutindo em livros que davam para encher uma estante. O “crescimento moral” de Carlito faz-me pensar nesse ser estranho que é o artista, criador de mundos e criatura ele próprio, tão sujeito às leis do mundo exterior, ao seu sistema de influências e pressões, como os seres que a sua imaginação tirou do nada e pôs no papel, no palco ou num pedaço de tela. Hoje Carlito tem um sentido de que não suspeitávamos (nem ele) ao tempo daquelas velhas e extravagantes comédias em um ato do Keystone. E se o público em geral continua a pedir-lhe apenas aquilo que é a feição superficial de sua arte, a sua macaquice silenciosa e irresistível, nós outros pedimos mais, porque queremos rever, em cada “film” novo, o desencanto, a perplexidade, a malícia, a piedade, a tristeza e o sonho de Carlito, ou seja, o espectro de sua pantomima, o seu lado mais trágico. Afinal, Carlito foi um homem que deu a volta ao cômico. E que verificou a precariedade e a contingência do cômico, máscara tênue demais para disfarçar a seriedade profunda da vida. Mas que, sendo inteligente, não contou isso a ninguém; encheu, apenas, com a sua experiência pessoal, os filmes com que resgatou a vulgaridade do cinema norte-americano e que se chamam “Vida de cachorro”, “Ombro armas”, “O garoto”, “O circo”.
Não foi sem propósito que aluda à sua experiência pessoal. Vejo nos jornais que Carlito está noivo de sua primeira esposa, Lita Grey. Casado duas vezes, e duas vezes infeliz, o imenso poeta da cena muda não se revolta, não se recolhe a uma ordem religiosa, não cobre a cabeça de cinza, nem se consagra ao cultivo de crisantemos: casa-se de novo. E logo com a primeira mulher, cujo comércio lhe foi tão difícil e cheio de dissabores.
Há um sentido na vida de Carlito (e na sua obra também), um sentido ainda mais íntimo do que o pressentido pelos intelectuais, e que nos escapa."


Publicado no Minas Gerais, em 08/04/1930, pp. 7-8, sob o pseudônimo de Antônio Crispim.

Apelo aos Homens

"Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio… negros… brancos.
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens… levantou no mundo as muralhas do ódio… e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem… um apelo à fraternidade universal… à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora… milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas… vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia… da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutais… que vos desprezam… que vos escravizam… que arregimentam as vossas vidas… que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar… os que não se fazem amar e os inumanos!
Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, ms dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela… de faze-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo… um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!
Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!"
Último Discurso do Filme O Grande Ditador
Fonte: http://www.culturabrasil.pro.br/chaplin1.htm, acesso em: 17/out/07
O texto apresentado no site está idêntico ao presente nos seguintes livros:
Charles Chaplin, de André Bazin, Ed Marigo, 1989
Livro-Clipping: Chaplin por ele mesmo, Ed Martin Claret, 2004
O Pensamento Vivo de Chaplin, Ed Martin Claret, 1986
A versão original em inglês está presente no site oficial de Charles Chaplin: http://www.charliechaplin.com/en/articles/29Assista também no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=3OmQDzIi3v0

Canto ao Homem do Povo - Charles Chaplin (Carlos Drummond de Andrade)

I

Era preciso que um poeta brasileiro,
não dos maiores, porém dos mais expostos à galhofa,
girando um pouco em tua atmosfera ou nela aspirando a viver
como na poética e essencial atmosfera dos sonhos lúcidos,

era preciso que esse pequeno cantor teimoso,
de ritmos elementares, vindo da cidadezinha do interior
onde nem sempre se usa gravatas mas todos são extremamente polidos
e a opressão é detestada, se bem que o heroísmo se banhe em ironia,

era preciso que um antigo rapaz de vinte anos,
preso à tua pantomima por filamentos de ternura e riso dispersos no tempo,
viesse recompô-los e, homem maduro, te visitasse
para dizer-te algumas coisas, sobcolor de poema.

Para dizer-te como os brasileiros te amam
e que nisso, como em tudo mais, nossa gente se parece
com qualquer gente do mundo - inclusive os pequenos judeus
de bengalinha e chapéu-coco, sapatos compridos, olhos melancólicos,

vagabundos que o mundo repeliu, mas zombam e vivem
nos filmes, nas ruas tortas com tabuletas: Fábrica, Barbeiro, Polícia,
e vencem a fome, iludem a brutalidade, prolongam o amor
como um segredo dito no ouvido de um homem do povo caído na rua.

Bem sei que o discurso, acalanto burguês, não te envaidece,
e costumas dormir enquanto os veementes inauguram estátua,
e entre tantas palavras que como carros percorrem as ruas,
só as mais humildes, de xingamento ou beijo, te penetram.

Não é a saudação dos devotos nem dos partidários que te ofereço,
eles não existem, mas a de homens comuns, numa cidade comum,
nem faço muita questão da matéria de meu canto ora em torno de ti
como um ramo de flores absurdas mando por via postal ao inventor dos jardins.

Falam por mim os que estavam sujos de tristeza e feroz desgosto de tudo,
que entraram no cinema com a aflição de ratos fugindo da vida,
são duras horas de anestesia, ouçamos um pouco de música,
visitemos no escuro as imagens - e te descobriram e salvaram-se.

Falam por mim os abandonados da justiça, os simples de coração,
os parias, os falidos, os mutilados, os deficientes, os indecisos, os líricos, os cismarentos,
os irresponsáveis, os pueris, os cariciosos, os loucos e os patéticos.

E falam as flores que tanto amas quando pisadas,
falam os tocos de vela, que comes na extrema penúria, falam a mesa, os botões,
os instrumentos do ofício e as mil coisas aparentemente fechadas,
cada troço, cada objeto do sótão, quanto mais obscuros mais falam.

II

A noite banha tua roupa.

Mal a disfarças no colete mosqueado,

no gelado peitilho de baile,

de um impossível baile sem orquídeas.


És condenado ao negro. Tuas calças

confundem-se com a treva. Teus sapatos

inchados, no escuro do beco,

são cogumelos noturnos. A quase cartola,

sol negro, cobre tudo isto, sem raios.


Assim, noturno cidadão de uma república

enlutada, surges a nossos olhos

pessimistas, que te inspecionam e meditam:


Eis o tenebroso, o viúvo, o inconsolado,

o corvo, o nunca-mais, o chegado muito tarde

a um mundo muito velho.


E a lua pousa

em teu rosto. Branco, de morte caiado,

que sepulcros evoca mas que hastes

submarinas e álgidas e espelhos

e lírios que o tirano decepou, e faces

amortalhadas em farinha. O bigode

negro cresce em ti como um aviso

e logo se interrompe. É negro, curto,

espesso. O rosto branco, de lunar matéria,

face cortada em lençol, risco na parede,

caderno de infância, apenas imagem

entretanto os olhos são profundos e a boca vem de longe,

sozinha, experiente, calada vem a boca

sorrir, aurora, para todos.


E já não sentimos a noite,

e a morte nos evita, e diminuímos

como se ao contato de tua bengala mágica voltássemos

ao país secreto onde dormem os meninos.

Já não é o escritório e mil fichas,

nem a garagem, a universidade, o alarme,

é realmente a rua abolida, lojas repletas,

e vamos contigo arrebentar vidraças,

e vamos jogar o guarda no chão,

e na pessoa humana vamos redescobrir

aquele lugar - cuidado! - que atrai os pontapés: sentenças

de uma justiça não oficial.

III

Cheio de sugestões alimentícias, matas a fome

dos que não foram chamados à ceia celeste

ou industrial. Há ossos, há pudins

de gelatina e cereja e chocolate e nuvens

nas dobras do teu casaco. Estão guardados

para uma criança ou um cão. Pois bem conheces

a importância da comida, o gosto da carne,

o cheiro da sopa, a maciez amarela da batata,

e sabes a arte sutil de transformar em macarrão

o humilde cordão de teus sapatos.


Mais uma vez jantaste: a vida é boa.

Cabe um cigarro: e o tiras

da lata de sardinhas.

Não há muitos jantares no mundo, já sabias,

e os mais belos frangos

são protegidos em pratos chineses por vidros espessos.

Há sempre o vidro, e não se quebra,

há o aço, o amianto, a lei,

há milícias inteiras protegendo o frango,

e há uma fome que vem do Canadá, um vento,

uma voz glacial, um sopro de inverno, uma folha

baila indecisa e pousa em teu ombro: mensagem pálida

que mal decifras

o cristal infrangível. Entre a mão e a fome,

os valos da lei, as léguas. Então te transformas

tu mesmo no grande frango assado que flutua

sobre todas as fomes, no ar; frango de ouro

e chama, comida geral, que tarda.

IV

O próprio ano novo tarda. E com ele as amadas.

No festim solitário teus dons se aguçam.

És espiritual e dançarino e fluido,

mas ninguém virá aqui saber como amas

com fervor de diamante e delicadeza de alva,

como, por tua mão a cabana se faz lua.

Mundo de neve e sal, de gramofones roucos

urrando longe o gozo de que não participas.

Mundo fechado, que aprisiona as amadas

e todo o desejo, na noite, de comunicação.

Teu palácio se esvai, lambe-te o sono,

ninguém te quis, todos possuem,

tudo buscaste dar, não te tomaram.

Então encaminhas no gelo e rondas o grito.

Mas não tens gula de festa, nem orgulho

nem ferida nem raiva nem malícia.

És o próprio ano-bom, que te deténs. A casa passa

correndo, os copos voam,

os corpos saltam rápido, as amadas

te procuram na noite... e não te vêem,

tu pequeno, tu simples, tu qualquer.


Ser tão sozinho em meio a tantos ombros,

andar aos mil num corpo só, franzino,

e ter braços enormes sobre as casas,

ter um pé em Guerrero e outro no Texas,

falar assim a chinês a maranhense,

a russo, a negro: ser um só, de todos,

sem palavra, sem filtro,
sem opala:
há uma cidade em ti, que não sabemos.

V

Uma cega te ama. Os olhos abrem-se.
Não, não te ama. Um rico, em álcool,
é teu amigo e lúcido repele
tua riqueza. A confusão é nossa, que esquecemos
o que há de água, de sopro e de inocência
no fundo de cada um de nós, terrestres. Mas, ó mitos
que cultuamos, falsos: flores pardas,
anjos desleais, cofres redondos, arquejos
poéticos acadêmicos; convenções
do branco, azul e roxo; maquinismos,
telegramas em série, e fábricas e fábricas
e fábricas de lâmpadas, proibições, auroras.
Ficaste apenas um operário
comandado pela voz colérica do megafone.
És parafuso, gesto, esgar.
Recolho teus pedaços: ainda vibram,
lagarto mutilado.

Colo teus pedaços. Unidade
estranha é a tua, em mundo assim pulverizado.
E nós, que a cada passo nos cobrimos
e nos despimos e nos mascaramos,
mal retemos em ti o mesmo homem,
aprendiz
bombeiro
caixeiro
doceiro
emigrante
forçado
maquinista
noivo
patinador
soldado
músico
peregrino
artista de circo
marquês
marinheiro
carregador de piano
apenas sempre entretanto tu mesmo,
o que não está de acordo e é meigo,
o incapaz de propriedade, o pé
errante, a estrada
fugindo, o amigo
que desejaríamos reter
na chuva, no espelho, na memória
e todavia perdemos

VI

Já não penso em ti. Penso no ofício
a que te entregas. Estranho relojoeiro
cheiras a peça desmontada: as molas unem-se,
o tempo anda. És vidraceiro.
Varres a rua. Não importa
que o desejo de partir te roa; e a esquina
faça de ti outro homem; e a lógica
te afaste de seus frios privilégios.

Há o trabalho em ti, mas caprichoso,
mas benigno,
e dele surgem artes não burguesas,
produtos de ar e lágrimas, indumentos
que nos dão asa ou pétalas, e trens
e navios sem aço, onde os amigos
fazendo roda viajam pelo tempo,
livros se animam, quadros se conversam,
e tudo libertado se resolve
numa efusão de amor sem paga, e riso, e sol.

O ofício é o ofício
que assim te põe no meio de nós todos,
vagabundo entre dois horários; mão sabida
no bater, no cortar, no fiar, no rebocar,
o pé insiste em levar-te pelo mundo,
a mão pega a ferramenta: é uma navalha,
e ao compasso de Brahms fazes a barba
neste salão desmemoriado no centro do mundo oprimido
onde ao fim de tanto silêncio e oco te recobramos.

Foi bom que te calasses.
Meditavas na sombra das chaves,
das correntes, das roupas riscadas, das cercas de arame,
juntavas palavras duras, pedras, cimento, bombas, invectivas,
anotavas com lápis secreto a morte de mil, a boca sangrenta
de mil, os braços cruzados de mil.

E nada dizias. E um bolo, um engulho
formando-se. E as palavras subindo.
Ó palavras desmoralizadas, entretanto salvas, ditas de novo.
Poder da voz humana inventando novos vocábulos e dando sopros exaustos.
Dignidade da boca, aberta em ira justa e amor profundo,
crispação do ser humano, árvore irritada, contra a miséria e a fúria dos ditadores,
ó Carlito, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu bigode
caminham numa estrada de pó e de esperança.

(In A Rosa do Povo, Ed Record)

Fonte: http://www.culturabrasil.pro.br/chaplinhomemdopovo.htm, acesso em: 17/out/07

Quando me amei de verdade

Quando me amei de verdade

pude compreender
que em qualquer circunstância,
eu estava no lugar certo,na hora certa.
Então pude relaxar.

p.10

*

Quando me amei de verdade

pude perceber que o sofrimento
emocional é um sinal de que estou indo
contra a minha verdade.

p.18

*

Quando me amei de verdade

parei de desejar que a minha vida
fosse diferente e comecei a ver
que tudo o que acontece contribui
para o meu crescimento.

p. 30

*

Quando me amei de verdade

comecei a perceber como
é ofensivo tentar forçar
alguma coisa ou alguém
que ainda não está preparado.
- inclusive eu mesma.

p.37

*
Quando me amei de verdade

comecei a me livrar de tudo
que não fosse saudável.
Isso quer dizer: pessoas, tarefas,
crenças e - qualquer coisa que
me pusesse pra baixo.
Minha razão chamou isso de egoísmo.
Mas hoje eu sei que é amor-próprio.

p.45

*

Quando me amei de verdade

deixei de temer meu tempo livre
e desisti de fazer planos.
Hoje faço o que acho certo
e no meu próprio ritmo.
Como isso é bom!

p. 65

*

Quando me amei de verdade

desisti de querer ter sempre razão,
e com isso errei muito menos vezes.

p. 77

*

Quando me amei de verdade

desisti de ficar revivendo o passado
e de me preocupar com o futuro.
Isso me mantém no presente,
que é onde a vida acontece.

p.83

*
Quando me amei de verdade

percebi que a minha mente
pode me atormentar e me decepcionar.
Mas quando eu a coloco
a serviço do meu coração,
ela se torna uma grande e valiosa aliada.

p.84


Este texto não é de Chaplin
é de Kim McMillen & Alison McMillen

In: Quando me amei de verdade
Trad. Iva Sofia G Lima
Rio de Janeiro: Sextante, 2003 96p.

Fontes
Amazon.com, acesso em 17/out/07
Editora Sextante, acesso em 17/out/07
Leia o livro na íntegra nos seguintes sites


Na web: http://www.scribd.com/doc/30002/Quando-me-amei-de-verdade


PDF: http://static.scribd.com/docs/43m72lnle9bft.pdf

DOC: http://static.scribd.com/docs/43m72lnle9bft.doc

TXT: http://static.scribd.com/docs/43m72lnle9bft.txt

Life Cycle

"The most unfair thing about life is the way it ends. I mean, life is tough. It takes up a lot of your time. And what do you get at the end of it? A death. What's that, a bonus? I think the life cycle is all backwards. You should die first, get it out of the way. Then you live in an old age home. You get kicked out when you're too young, you get a gold watch, then you got to work. You work forty years until you're young enough to enjoy your retirement. You do drugs, alcohol, you party, get laid, you get ready for high school. You go to grade school, you become a kid, you play, you have no responsibilities, you become a little baby, you go back into the womb, you spend your last nine months floating in warm liquid... and you check out as a gleam in somebody's eye!"


This text belongs to Sean Morey

O Ciclo da Vida

"A coisa mais injusta da vida é a maneira como ela termina. Viver é muito difícil. Toma muito do seu tempo. E o que você tem no final? Uma morte. O que é isso, uma recompensa? Acho que o ciclo da vida está todo de trás pra frente. Você devia morrer primeiro, se livrar logo disso. Então você vive num asilo de velhinhos. É expulso de lá por estar jovem demais, ganha um relógio de outro, vai trabalhar. Você trabalha quarenta anos até ficar jovem o suficiente pra aproveitar a aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara pra faculdade. Você vai pro colégio, tem várias namoradas, vira criança, você brinca, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando... E termina tudo com um ótimo orgasmo!!! "


Este texto não pertence a Chaplin, pertence a Sean Morey.

Em sites em inglês este texto nunca foi atribuído a Chaplin. Já foi atribuído a George Carlin, Andy Rooney, George Constanza, Robert Benson... mas é de Sean Morey.

No Brasil ele ficou conhecido no final de 1976, através do Fantástico. Quem trouxe o texto ao Fantástico foi Marcos César, falecido em Sorocaba. Naquela época, no Brasil, o texto não era associado a Chaplin. O texto ressurgiu em português na internet com vários nomes: A Vida Segundo Chaplin, Ciclo de Vida, Vida ao Contrário, entre outros.

Não há nenhum registro de obra onde Chaplin o tenha publicado pela primeira vez.

Source/Fonte: Urban Legends Reference Pages, http://www.snopes.com/politics/soapbox/rooney3.asp, access in/acesso em 14/set/07, last update/última atualização: 22/jan/04 (See the end of page)